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OBSESSÃO

Allan Kardec define obsessão como sendo a “ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo.” [ESE-cap XXVIII].
 
Esta definição apresentada pelo Codificador dá margem a vários comentários:
 
– A obsessão é sempre um processo mantido, contínuo, persistente onde as forças em litígio estão se enfrentado num processo bem estabelecido. Não se reconhece como obsessão àquelas condições fortuitas, ocasionais, onde assimilamos pensamentos infelizes de forma breve e sem grandes consequências.
 
– A qualificação de Espírito mau, apresentada por Kardec, deve ser bem entendida. O obsessor, na realidade, não é um Espírito mau, como se entende este adjetivo, mas sim, uma entidade em sofrimento, com defeitos e virtudes, capaz de grandes atitudes afetivas para com outras pessoas. É, sobretudo, alguém que foi ferido, magoado, humilhado no passado e que por sofrer tanto, quer fazer os outros sofrerem também. – Em muitas oportunidades a obsessão não estará sendo organizada por um único Espírito, mas sim, por uma falange de Espíritos.
 
– A obsessão pode atingir não apenas um indivíduo, mas toda uma coletividade, uma família, uma cidade.
 
– A definição apresentada restringe a obsessão a apenas uma de suas formas, quando um Espírito estará desenvolvendo o processo obsessivo em direção a um encarnado. Pode ocorrer o inverso, quando um encarnado passa a subjugar o Espírito. Pode-se observar também obsessão entre encarnados e entre desencarnados.
Patologias – Como se desenvolve a “ação” a que se referia Allan Kardec?
 
* O Espírito infeliz estará atuando sobre o encarnado em dois níveis:
* Mente a mente: constrição mental;
* Perispírito a perispírito: envolvimento fluídico.
 
a) Constrição Mental: o obsessor instala a sua onda mental na mente da pessoa visada. Forma-se uma ponte magnética, através da qual, o perseguidor vai enviando os seus pensamentos e suas idéias, promovendo uma verdadeira hipnose: “Você é infeliz”; “Sua vida não presta”; “Mate-se…”
 
A princípio o indivíduo pode reagir fugindo da faixa de atuação do obsessor. No entanto, se ele se entrega àquelas ideias ou se compraz com este conúbio mental, o processo pode agravar-se, chegando ao grau máximo de obsessão, que é a subjugação moral, onde o obsediado perde completamente o seu livre-arbítrio. Depois que o cerco se completa, pode tornar-se necessária presença do obsessor ao lado do encarnado, pois ele pode continuar exercendo o domínio psíquico a distância. É o que André Luiz denomina de “loucura por telepatia alucinatória.”
 
Algumas vezes, coadjuvando o processo de constrição mental, os Espíritos obsessores poderão se utilizar de certos “aparelhos especiais” para manter o processo. Manoel Philomeno de Miranda fez referência a um pequeno aparelho, semelhante à um “micro-gravador” que os Espíritos introduziram no cérebro do encarnado e que objetivava reforçar o processo de hipnose mental.
 
b) Envolvimento Fluídico: ao envolver o indivíduo, o perseguidor identifica os seus fluidos com os dele, há uma aproximação das auras, os perispíritos se assimilam. Este convívio perispiritual vai permitir ao Espírito sugar energias vitais do encarnado, o que vai contribuir para o emagrecimento, o cansaço e as infecções que acompanham com frequência as vítimas da obsessão. O envolvimento fluídico vai permitir também que o Espírito transmita para o encarnado, fluidos deletérios fabricados por ele.
 
 QUAIS SÃO AS CAUSAS?
 
Sinteticamente, podemos reconhecer quatro causas fundamentais, envolvendo as obsessões:
 
a) Ódio ou Vingança: na maioria das vezes a obsessão é uma vingança exercida por um Espírito que foi prejudicado e que sofreu muito nas mãos do atual obsediado. Este Espírito pode ter sido prejudicado numa outra encarnação onde eles estiveram juntos, ou nessa mesma existência. O aborto criminoso é um acontecimento que muitas vezes responde por obsessões graves cuja causa está na mesma encarnação;
 
b) Carência Afetiva: é uma causa de obsessão, muitas vezes inconsciente, denominada comumente de “encosto”. São Espíritos que desencarnam sem uma preparação espiritual adequada e que, ao despertarem no mundo dos Espíritos, se vêem desorientados, perdidos, angustiados. Ao identificarem um indivíduo que se afinize com eles, podem aproximar-se dele e iniciar uma obsessão, muitas vezes, inconsciente.
 
Geralmente, são processos de fácil tratamento, pois não há vínculo de ódio entre os seres envolvidos;
 
c) Vampirismo: o vampirismo é uma causa de obsessão relacionada á satisfação de vícios e paixões.
Vampiro, na definição de André Luiz: “é toda entidade ociosa que se vale indevidamente das possibilidades alheias”.
O vampirismo vai caracterizar aqueles Espíritos viciosos, apegados a certas emoções materializadas, que se aproximam dos encarnados, portadores dos mesmos vícios, para absorverem as suas emanações fluídicas. Existem vampiros do fumo, do álcool, da gula, dos tóxicos, do sexo, etc.;
 
d) Orgulho do Falso Saber: esta expressão é utilizada por Allan Kardec para caracterizar certos Espíritos vaidosos, orgulhosos, falsos-sábios que desenvolvem uma obsessão do tipo fascinação. Iludem determinados médiuns para que, por seu intermédio, possam disseminar idéias falsas, sistemáticas e em contradição com os princípios espíritas.
 
CLASSIFICAÇÃO
 
Embora os conceitos iniciais da doença obsessão (enfermidade de caráter espiritual) já houvessem sido abordadas por Kardec, em 1857 no Livro dos Espíritos, a descrição completa da obsessão só foi publicada por Kardec em 1861, no Cap. XXIII do Livro dos Médiuns, onde ele define a doença, enumera suas causas, classifica seus diferentes tipos e propõem uma terapêutica eficiente.
 
Afirmava Kardec que a obsessão apresenta caracteres diversos, que é preciso distinguir, e que resultam do grau de constrangimento e da natureza dos efeitos que produz. A palavra obsessão é um termo genérico, pelo qual se designa esta espécie de fenômeno, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.
 
Obsessão simples
 
Na obsessão simples o Espírito inferior procura, através de sua tenacidade e persistência, intrometer-se na vida do obsediado, dando-lhe sugestões que, na grande maioria das vezes, são contrárias a sua forma habitual de pensar. 
Quando se trata, por exemplo, de um médium acometido por obsessão simples, o Espírito inferior se intromete nas suas comunicações e o impede de se comunicar com outros Espíritos, ou se apresenta substituindo e se fazendo passar por outros. Entretanto, esclarece Kardec, ninguém está obsediado pelo fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. A obsessão consiste na ação persistente de um Espírito, e do qual não se consegue desembaraçar, à pessoa sobre quem ele atua. O melhor médium pode ser enganado, sobretudo no começo, que lhe falta a experiência necessária, pode-se, pois, ser enganado sem ser obsediado. O Espírito Manoel Philomeno de Miranda afirma-nos:
 
“A obsessão simples, é uma parasitose comum em quase todas as criaturas, considerando o natural intercâmbio psíquico existente em todos os setores do Universo.” Entretanto, o problema reside na fixação, pois o próprio significado da palavra obsessão, como vimos, revela idéia fixa, o que caracteriza o instalação do processo obsessivo.
 
Surgem, assim, como sinais e sintomas da obsessão simples, as desconfianças excessivas, os estados de insegurança pessoal, as enfermidades sem causas definidas, etc. Observamos também, mudanças algo súbitas no temperamento habitual do obsediado, em razão das mensagens telepáticas emitidas pelo obsessor e reforçadas nos clichês mentais que ressurgem dos arquivos do inconsciente. 
 
Podemos incluir nessa categoria os casos de obsessão de efeitos físicos, isto é, a que consiste nas manifestações ruidosas e obstinadas de alguns Espíritos, que fazem se ouçam, espontaneamente pancadas, ruídos. Pelo que chamamos manifestações físicas espontâneas ou obsessão de efeitos físicos. 
 
Fascinação
 
Na fascinação, as consequências são mais sérias. É uma ilusão, produzida pela ação direta do Espírito obsessor sobre o pensamento do médium, e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio e o seu julgamento relativamente às comunicações. 
 
O fascinado não acredita que o estejam enganando e o Espírito fascinador tem a capacidade de lhe inspirar confiança cega, que o impede de compreender o absurdo do que escreve ou fala, ainda que este absurdo esteja claro a todos os que os cercam. A ilusão pode mesmo ir ao ponto de fazê-lo ver o sublime na linguagem mais ridícula. 
 
O fascinado não se sente incomodado com a presença e a influência do obsessor, muitas vezes até gosta, e forma-se então o verdadeiro processo de simbiose psíquica. O médium fascinado se acredita guiado por uma entidade espiritual de alto gabarito, pois que usa nome de personagens famosos ou de Espírito de valor. 
 
O Espírito obsessor, nesses casos, é hábil, astuto e profundamente hipócrita, pois usa uma imagem que esconde suas verdadeiras intenções. Usa com frequência as palavras caridade, humildade e amor a Deus como credenciais, mas, através de tudo, deixa transparecer sinais de inferioridade. A fascinação é difícil de ser tratada porque o obsediado recusa orientação e tratamento, pois não acredita estar sob influência obsessiva, e até, às vezes, acredita que todos os demais é que se encontram obsediados, magoa-se e afasta-se das pessoas que o podem esclarecer. Geralmente, os médiuns fascinados vagueiam de um centro ao outro e, muitas vezes, terminam por criarem seus próprios centros espíritas onde serão onipotentes.
 
Subjugação
 
A subjugação é o tipo de obsessão em que existe a paralisia da vontade do obsediado e o obsessor assume o domínio completo de sua vítima, que é escravizada, perdendo a vontade própria. a subjugação pode ser moral ou corporal (física).
 
Na subjugação física, o Espírito obsessor atua sobre os órgãos materiais e provoca atos motores involuntários, variando, desde situações, como por exemplo, necessidade de escrever nas horas mais inoportunas até situações ridículas como gestos involuntários, etc. Na subjugação física, o indivíduo age contra a sua vontade e tem consciência do ridículo a que se expõe e que não consegue evitar, sofrendo muito com isso. Pode, algumas vezes, praticar atos violentos.
 
Na subjugação moral ou psíquica, o subjugado é levado a tomar resoluções frequentemente absurdas e comprometedoras, muito diversas da sua vontade, que, por uma espécie de ilusão, ele crê sensatas. O paciente subjugado vai sendo dominado mentalmente, tombando em estado de passividade, geralmente sob tortura emocional, chegando a perder por completo a lucidez (consciência). 
 
O subjugado perde temporária ou definitivamente, durante a sua atual reencarnação, o controle sobre a área da consciência, não podendo se expressar livremente. A visão, a audição e os demais sentidos confundem a realidade objetiva. Por fim, o obsessor toma conta dos centros de comando motor e domina fisicamente a vítima que lhe fica inerte, subjugada moral e fisicamente, agindo como um louco vulgar.
 
A subjugação é de mais fácil reconhecimento, mas de difícil tratamento, e é raro haver cura sem deixar sequelas. Não devemos supor na subjugação, o Espírito obsessor tome lugar no corpo do obsediado, há, sim, uma supremacia da sua vontade dominando completamente a do médium. Lembramos ainda que a obsessão é o peso que tomba sempre sobre os ombros das consciências comprometidas. 
 
A Doutrina Espírita veio desvendar o processo de nossa libertação, revelando que a cura só ocorrerá se os envolvidos no processo, reconhecendo seus débitos, procurarem a melhora. Vem demonstrar que a nossa libertação deve ser conquistada a cada dia com o empenho de todas as nossas energias e o selo de nossa responsabilidade. Dos tormentosos processos obsessivos o homem só se libertará quando compreender o quanto é responsável pelo próprio tormento, e pelos que causa, aos que hoje lhe batem às portas do coração, roubando a paz que julgava merecer. Liberdade e responsabilidade. Para merecermos a primeira temos que assumir a segunda!

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Ramadan Kareem

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